quinta-feira, 24 de junho de 2010

Esperançosa tristeza

O sangue bombeia com maior intensidade; meus sentidos parecem ficar mais apurados; meus olhos brilham como a lua cheia no campo; minha pupila dilata com a adrenalina liberada; mãos inquietas se encontram na ansiedade; minha alma se eleva tanto que fico fora de mim. Aquele olhar penetrante se junta ao cheiro inconfundível e me enlouquece de forma a ser prazeroso e ao mesmo tempo triste. Toda aquela sensação, que eu não consigo esconder, pode se tornar um vício. Fico dependente daquele amor que não existe. Acabo por padecer-me cada dia mais com a falta daquilo e me confundo internamente. Não sei se sofro sem o tal amor, que me deixa tão inquieta e que, quando junto a mim, me faz delirar em sonhos magníficos, voar até a mais alta nuvem, rumo ao universo; ou se sofro com a realidade desse sonho, que é interrompida pela presença de um intruso indesejado, depreciador, habitual e desfavorecedor. Ele se entrega a essa trivialidade e se perde meio a tanta vontade.
Eu queria poder (ou saber como) fugir dessa angústia que me aflige tão profundamente; libertar-me desse bem, que com a rotina se torna mal. Mas não posso, não consigo. Sinto-me presa àquele sentimento bom, àquela proximidade tão tentadora; mas quando a distância é colocada, vejo que não há amor, não há paixão. Chafurdo-me em ilusão. O que me resta é a esperança da metamorfose do ser, que, como dizem, é a última a morrer.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Passado ainda presente

A união pode fazer a força, mas quando não é de bom grado, torna-se fraqueza. São dois lados da mesma moeda, que nunca se encontrarão. Perto do amor comum, a distância separa seres contrários, distintos, inigualáveis. Arrependimento não é a palavra correta a ser usada, porque o que passou já foi feito e não há como voltar. Novos tempos caminham para todos. Eis o início de uma nova era! Alegria, união, amor. Companheiros diferentes e, quando inseridos em imensa falsidade, iguais. Tudo assim vai, vai, vai... Até chegar o fim do passado e a vivência do futuro, que já está presente.

Certamente Duvidoso

Eu aposto na luz do fogo, ela me mostra a escuridão. No calor das chamas, entrego-me a amores inexistentes. Viajo em pensamentos distantes que vagam por universos paralelos e me mostram o sentimento. Não sei explicar o que sinto, não sei o que fazer para afogar essa dor. A saudade de tudo se dissolve na dúvida da falta. Contradigo-me em pensamentos e não compreendo meus possíveis atos. Assim vou, sem saber o que fazer ou para onde ir, visando realidades diferentes de um mesmo fato, na procura do saber.

domingo, 6 de junho de 2010

Esquecimento

O vento que soprava fortemente caracterizava a noite fria e nublada. Ao doce som da música ele se deliciava. Deitado em sua cama macia e aconchegante, perdia-se em pensamentos vagos e ao mesmo tempo conturbados. Não sabia o que fazer, sentir, ou pensar. Em sua mente estavam distantes tempos que não eram mais reais. Angustiado em autocomiseração, com as mãos vendando os olhos, ele tentava desapegar do que o atraía. Nada era possível, mas o impossível não existia. Aqueles momentos jaziam acabados há muito tempo, porém restava a lembrança do que foi sincero, puro, valorizado e digno. Aquele amor já não mais pertencia à sua vida, mas para ele nada era capaz de chafurdá-lo em si.
O tempo passava e cada dia havia maior encantamento pelo que foi perdido, na esperança de reaver ou no medo de se esquecer. As peculiaridades do sentimento foram dissolvidas em saudade, que tornava a dor cada vez mais árdua. Ele temia que aquilo fosse perpétuo e que a triste invasão emocional se tornasse trivial. Não podia ocorrer, a tristeza era mais escabrosa que qualquer outra dor. Se continuasse assim não aguentaria prosseguir, isso tinha que passar.
...
Não passou, mas amenizou e mostrou-o que há mais flores que espinhos nesse jardim.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Severas Objeções

Angustiante, porém enobrecedor.
O sentimento da precípua base,
coloca-me no lugar de todos,
onde não há ninguém.

No furto da alteridade
perde-se na própria dor,
no ressentimento de ser.

Ser o que quer na tentativa
de ocultar o que realmente é.

Da roseira foi sacada a flor,
meus olhos já não veem amor.
Lágrimas de sangue jorradas,
dia após dia,
no manto da existência.

Um estado de lamentação
que aflige a todos,
mas preocupa a poucos.

No reinado da palavra
onde se pode agredir
sem nem sequer ferir,
me esqueço de tudo.

Comutação de sentimentos,
permutação de sentidos.
Tudo é uma eterna troca.
Troca de perdão
na experiência da razão.